Neste blog compartilho páginas de minha vida. Exponho minhas experiências, aprendizados, interesses, preferências, críticas, opiniões e também o meu dia-a-dia.
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terça-feira, 4 de outubro de 2011

Millôr Fernandes - um escritor sem estilo

Millôr Fernandes - escritor, desenhista, jornalista, cartunista, humorista, tradutor e dramaturgo brasileiro. Carioca, descobriu aos 17 anos que não se chamava Milton, como pensava. Um erro de grafia do cartório puxou o tracinho do "T" pra cima do "O" e um "N" com jeito de "R" fez com que passasse a ser chamado de Millôr. Ele gostou. Sem mudar oficialmente, adotou o novo nome como apelido. Começou a fazer sucesso e ser reconhecido por seus trabalhos literários com apenas 15 anos. 


Um escritor ímpar, que desafia as leis fonéticas e semânticas e questiona tudo: Deus, a sociedade, a imprensa, os comunistas, as feministas e tudo o que considera contestável. É considerado um gênio. Gênio do humor, gênio da contestação, gênio do livre pensamento, gênio do caos.

Na sua estréia na revista "Veja", em 1968, apresentou-se com o seguinte texto:

"Autobiografia de mim mesmo à maneira de mim próprio:
E lá vou eu de novo, sem freio nem pára-quedas. Saiam da frente, ou debaixo que, se não estou radioativo, muito menos estou radiopassivo. Quando me sentei para escrever vinha tão cheio de idéias que só me saíam gêmeas, as palavras -- reco-reco, tatibitate, ronronar, coré-coré, tom-tom, rema-rema, tintim-por-tintim. Fui obrigado a tomar uma pílula anticoncepcional. Agora estou bem, já não dói nada. Quem é que sou eu? Ah, que posso dizer? Como me espanta! Já não fazem Millôres como antigamente! Nasci pequeno e cresci aos poucos. Primeiro me fizeram os meios e, depois, as pontas. Só muito tarde cheguei aos extremos. Cabeça, tronco e membros, eis tudo. E não me revolto. Fiz três revoluções, todas perdidas. A primeira contra Deus, e ele me venceu com um sórdido milagre. A segunda com o destino, e ele me bateu, deixando-me só com seu pior enredo. A terceira contra mim mesmo, e a mim me consumi, e vim parar aqui. ... Dou um boi pra não entrar numa briga. Dou uma boiada pra sair dela. ...Aos quinze (anos) já era famoso em várias partes do mundo, todas elas no Brasil. Venho, em linha reta, de espanhóis e italianos. Dos espanhóis herdei a natural tentação do bravado, que já me levou a procurar colorir a vida com outras cores: céu feito de conhas de metal roxo e abóbora, mar todo vermelho, e mulheres azuis, verdes ciclames. Dos italianos que, tradicionalmente, dão para engraxates ou artistas, eu consegui conciliar as duas qualidades, emprestando um brilho novo ao humor nativo. Posso dizer que todo o País já riu de mim, embora poucos tenham rido do que é meu. Sou um crente, pois creio firmemente na descrença. ...Creio que a terra é chata. Procuro não sê-lo. ...Tudo o que não sei sempre ignorei sozinho. Nunca ninguém me ensinou a pensar, a escrever ou a desenhar, coisa que se percebe facilmente, examinando qualquer dos meus trabalhos. A esta altura da vida, além de descendente e vivo, sou, também, antepassado. É bem verdade que, como Adão e Eva, depois de comerem a maçã, não registraram a ideia, daí em diante qualquer imbecil se achou no direito de fazer o mesmo. Só posso dizer, em abono meu, que ao repetir o Senhor, eu me empreguei a fundo. Em suma: um humorista nato. Muita gente, eu sei, preferiria que eu fosse um humorista morto, mas isso virá a seu tempo. Eles não perdem por esperar."


Millôr Fernandes aos 23 anos, em 1948, com Walt Disney. Sobre esta foto ele diz: “Foto cuidadosamente posada. Nessa época, eu ainda acreditava que Disney sabia desenhar. Só mais tarde, lendo sua biografia, aprendi que até aquela assinatura bacana com que ele autentica os desenhos é criação da equipe.”


FRASES:


"Anatomia é uma coisa que os homens também têm, mas que, nas mulheres, fica muito melhor."


"As pessoas que falam muito, mentem sempre, porque acabam esgotando seu estoque de verdades."


"Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim."


"O cara só é sinceramente ateu quando está muito bem de saúde."


"O melhor movimento feminino ainda é o dos quadris."

Natação e Automobilismo:
"Tenho absoluta incapacidade de admirar um homem apenas porque ele é melhor do que o outro um centésimo de segundo."

"Viver é desenhar sem borracha."
 
"Com muita sabedoria, estudando muito, pensando muito, procurando compreender tudo e todos, um homem consegue, depois de mais ou menos quarenta anos de vida, aprender a ficar calado."


"Chama-se celebridade um débil mental que foi à televisão."


"Se você agir sempre com dignidade, pode não melhorar o mundo, mas uma coisa é certa: haverá na Terra um canalha a menos."


"Por mais violento que seja o argumento contrário, por mais bem formulado, eu tenho sempre uma resposta que fecha a boca de qualquer um: «Vocês têm toda a razão»."


"Há duas coisas que ninguém perdoa: nossas vitórias e nossos fracassos."


"O mal de se tratar um inferior como igual é que ele logo se julga superior."


"Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."


"O dinheiro não dá felicidade. Mas paga tudo o que ela gasta."


"O homem é um macaco que não deu certo."


"Toda alegria é assim: já vem embrulhada numa tristezinha de papel fino."


"Basta um avião sacudir um pouquinho mais, e logo todos os passageiros ficam parecidos com a foto do passaporte."


"O futebol é o ópio do povo e o narcotráfico da mídia."

"O pais está dividido entre os cinicamente corruptos e os que não conseguem resistir à tentação."


"A proximidade é conivente. A distância é crítica."

 
Em 2000 Millôr lançou o site millor.online, com festa no Copacabana Palace. Hoje, aos 88 anos, com a saúde um pouco abalada, tem quase 350 mil seguidores no Twitter.

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